O estudo da Dislexia tem cerca de 150 anos, este termo foi introduzido pelo médico oftalmologista alemão Rudolf Berlim, em 1887. Atualmente sabemos que a Dislexia é uma Perturbação do Neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades significativas na precisão ou fluência e por reduzida competência ortográfica. Estas dificuldades tipicamente resultam de um défice na competência fonológica da linguagem.
Como implicações secundárias podemos ter problemas na compreensão da leitura e uma reduzida experiência leitora, o que condiciona o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais.
No mundo atual a competência leitora é uma das mais relevantes competências cognitivas e comunicativas, aprende-se a ler para depois ler para aprender. Ao contrário da linguagem oral, a aprendizagem da leitura não surge naturalmente, necessita de ser ensinada explicitamente. Pelo que a entrada no 1o ciclo é acompanhada de enormes expetativas para a criança, família e escola.
A maioria das crianças realiza esta aprendizagem com naturalidade e encanto por aceder a este código secreto da “gente grande”, porém cerca de 5 a 10 %, manifestam dificuldades persistentes que geram sentimentos de angústia, autoconceito negativo e baixo sentido de autoeficácia.
Cresci a ouvir comentários alheios sobre a minha dislexia severa, os quais oscilavam entre a minha falta de inteligência e o meu excesso de preguiça! Nenhum deles corresponde à realidade, e a melhor prova disso foram os meus resultados nos exames nacionais do 11o ano, nas disciplinas de Física e Química A e Geometria Descritiva A, onde obtive 20 valores, em ambos os exames, fruto de muito empenho e foco.
Felizmente, tenho a sorte que muitos disléxicos não têm: professores que me apoiam e respeitam, e pais que sempre acreditaram em mim, apoiando-me e incentivando- me para que atinga os meus objetivos.
Para todos os que são desvalorizados só vos peço para acreditem em vocês mesmos, que com esforço e dedicação conseguem alcançar os vossos objetivos, quaisquer que estes sejam.
A.P, 17 anos, 2020. Fonte: www.dislex.co.pt/sou-disléxico.html
Temos terreno fértil para o enraizar de alguns mitos, como nos refere A.P “minha falta de inteligência e o meu excesso de preguiça”, com impacto tremendo no bem-estar da criança e jovem. Assim respondo a alguns mitos, com o objetivo de promover a reflexão informada.
Os mitos da dislexia
A dislexia é causada por um problema visual, psicomotor ou de orientação espacial?
Incorreto! A dislexia tem na sua génese um défice fonológico.
Não se pode diagnosticar a Dislexia?
Incorreto! Estar atento aos indicadores precoces de dislexia é fundamental (ex. atraso na linguagem falada; dificuldades articulatórias; dificuldades nas rimas, canções, lengalengas, défice na consciência fonológica, nomeação rápida) e solicitar avaliação. Com a entrada no 1o ciclo existindo persistência das dificuldades solicitar avaliação especializada.
A Dislexia só pode ser diagnosticada e tratada depois do insucesso escolar?
Incorreto! As crianças com sinais de risco devem ser identificadas o mais precocemente possível e iniciado um programa de desenvolvimento das competências fonológicas. Reid Lyon, refere que se uma criança, entre os 5 e os 7 anos de idade, estiver em risco de insucesso, serão necessários cerca de 30 minutos por dia de intervenção, se se esperar pelos 8, 9 anos, serão necessárias duas horas diárias de intervenção.
Deve evitar-se diagnosticar as crianças disléxicas?
Incorreto! Como realizar intervenção numa perturbação da aprendizagem específica sem um diagnóstico?
A Dislexia passa com o tempo?
Incorreto! Sendo uma perturbação específica de origem neurobiológica, mantém-se ao longo da vida, embora com diferentes manifestações. É uma perturbação possível de realizar intervenção, mas não curável.
Que nos possamos inspirar no testemunho de A.P. que reflete a importância do respeito pela diferença, ser diferente não significa ser inferior.
Sendo fundamental que escola e família construam as pontes necessárias para uma adequada intervenção, tendo compaixão pelo ser humano que esta a sentir na pele a dificuldade.
Acreditar sempre! Incentivar sempre!
Elogiar o caminho sempre!
“Não se pode falar de educação sem amor”
Paulo Freire